Escritora frustrada. Mãe babada.Trapalhona por excelência. Gaja a quem tudo acontece. Adora escrever e fotografar sobre isso, apesar do jeito duvidoso. Experimentou Um lado. Agora, experimenta Por Um Outro. Será o avesso o lado certo?
No outro dia, regressávamos nós (eu e a minha cara-metade) de uma consulta no hospital... onde enterráramos 4 horas da nossa vida que nunca voltaremos a recuperar... em pleno dia útil.
O plano era recolher a Pipoquinha, que tinha ficado com os avós, e deixá-la na creche. E, depois, seguir para o trabalho.
Chegados a casa, reparei que a miúda estava de collants de inverno e camisola de manga comprida que nem tapava as vergonhas. Lá fora, um calor abrasador. Cá dentro, a miúda mal vestida para sair à rua. Despi-a e, no drama de estar tudo a deixar de servir, enfiei-lhe um vestido fresquinho e voltámos a sair a correr.
Fui deixá-la à creche.
No final do dia, ao ir buscá-la, diz a educadora:
"Ahhhh! ela hoje veio de vestido. Gostámos tanto. Devia vir assim vestida mais vezes. Foi o pai que a vestiu?"
Badummmtsss - como costuma dizer a minha cara-metade.
Estão a ver aquelas pessoas que estão sempre às piadas? Aquelas que parece ser impossível estarem caladas quando uma outra pessoa as incomoda? As que, estejam bem ou estejam mal, têm sempre um comentário ofensivo disfarçado de outra conversa qualquer?
Agora, recordem o que é estar sentado, quase ao colo, de uma pessoa assim O DIA TODO!!!
Pois! Neste momento, sou forçada a conviver com uma pessoa assim. Conviver é dizer muito. Coexistir, é a palavra indicada. Sou obrigada a coexistir, e a ouvir (Deus nos valha!!!), uma pessoa que fala muito, mas não diz nada de jeito.
Tudo serve para falar mal. Tudo serve para faltar ao respeito seja a quem for. Tudo é trazido e recontado à maneira que melhor lhes convém (e mais nos incomoda).Todos são alvos de comentários jocoso-ofensivos.
E, pior, usam as pessoas mais próximas para chamar nomes às outras que não estão sequer na conversa.
Como diz o ditado: Deus dái-me paciência... porque se me deres força...
Ora, era um gosto arranjar-lhe um sorriso novo. Seria jocoso se tivesse menos dois dentes?
O meu próximo objectivo de vida é: evitar a surdez. Até porque não há fones que superem o volume da estupidez humana.
Todos os dias passo por cima de um cabo. Uma coisa da grossura de um dedo indicador, cor-de-laranja, que está provisório-definitivamente no meio do corredor, no local onde trabalho.
Todos os dias alço a perna, abro bem os olhos, meço as distâncias e... rezo para não ser aquele O dia em que o dito cabo leva o esticão da sua (inerte) vida.
Eu, aquela que tropeça nos próprios pés... Que tomba mesmo de ténis calçados... todos os dias, várias vezes por dia, alça a perna e passa por cima do cabo.
O cabo. Aquele que liga duas salas de reuniões opostas. Aquele que foi a solução (barata mas pouco segura) para voltar a fornecer energia à sala maior.
Aquele que liga duas salas, dois quadrados de vidro que, invariavelmente têm pessoas lá dentro. Gente, mais ou menos importante, que se reúne ali, fingindo estar atentos ao que se passa dentro mas que estão sempre de olho posto no que passa cá fora.
E, todos os dias, eu me vejo a espernear tombada no chão, de fio laranja enrolado ao pescoço, com audiência para acompanhar.
